segunda-feira, 21 de setembro de 2009

DOSSIÊ ÁGUA – PARTE III



DOSSIE AGUA - III

por Thereza Venturoli


 Muitos rios, acesso desigual. O Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Mas falta muito para que toda a população tenha acesso à água limpa e a tratamento de esgoto. A acelerada urbanização, que colocou em 2008 mais da metade da população mundial em centros urbanos, faz com que aumente cada vez mais o volume retirado dos rios para abastecer residências e indústrias. Além de sobrecarregar as reservas, as populações das cidades estão sujeitas a consumir água de baixa qualidade, potencial responsável por doenças como cólera e diarréia. A parcela da população total que tem acesso à água limpa caiu de 84% para pouco mais de 70%, no mesmo período. Na Nigéria, a situação é ainda pior: a taxa de urbanização passou de 34% para 48%, mas o acesso à água de qualidade caiu de 80% para 68%. Isso por que as pessoas, ao saírem da zona rural, perderam acesso à água limpa, que não encontraram na cidade.
Com grande numero de rios e abundância de chuvas, o Brasil detém cerca de 13% de toda a água superficial do planeta. Mas toda essa água não é distribuída de maneira equilibrada: falta água na região do semiárido e nas grandes capitais do Sudeste. Cerca de 70% das reservas brasileiras estão na região Norte, onde vivem menos de 10% da população. 83% da população vive em cidades. Segundo o IBGE, 92,6% dessa população urbana é atendida por rede geral de abastecimento de água. É uma taxa alta, se comparada à da zona rural, que não supera os 28%. Os 74% dos brasileiros urbanos que não têm acesso aos serviços de abastecimento são obrigados a recorrer a poços, bicas, água de caminhões pipa – fontes que escapam do controle sanitário e podem chegar às casas contaminadas pelos vazamentos de fossas sépticas ou da rede de esgoto doméstico e industrial.
Mesmo na Região Norte, bem provida de recursos hídricos, a porcentagem dos habitantes de três capitais com acesso à rede geral de abastecimento é baixa: apenas 58,5% em Macapá (AP), 56% em Rio Branco (AC) e 30,6% em Porto Velho (RO). A cidade do Rio de Janeiro joga fora, sozinha, mais de 1,5 milhão de litros a cada dia – o equivalente a quase 620 piscinas olímpicas. Além disso, os 5,6 bilhões de litros de água lançados diariamente nas tubulações da Grande São Paulo colocam os mananciais próximos de seu limite de disponibilidade. Basta um breve período de falta de chuvas para a população se ver forçada a limitar o consumo, sob a ameaça de torneiras secas e racionamento de água. Na Grande São Paulo, menos de 25% do total de 56 metros cúbicos de esgoto produzidos a cada segundo recebe tratamento. Os restantes 42 metros cúbicos são despejados diariamente nos mesmos rios que abastecem os reservatórios de abastecimento.
Em alguns centros urbanos, 50% da população ocupa áreas irregulares e não tem acesso a serviços de água, coleta e tratamento de esgoto e coleta de lixo. Estima-se que a população favelada brasileira supere os 6,5 milhões de pessoas e deva chegar a 13,5 milhões nos próximos dez anos. Assim, a questão do acesso à água limpa torna-se um fator de exclusão social.
Fonte: Revista Atualidades, 1º Semestre 2009. Editora Abril.



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